20060619
a mulher do mercadinho
ela era japa (ou korea ou china) e devia ter uns 43, aparentando menos.
ela se vestia com um terno cinza, uma roupa que lhe dava uma certa distinção em meio às bichas do arouche que infestavam e frequentavam o lugar.
ela nunca mudava a expressão do rosto. não era simpática e nem antipática. era como se ela não estivesse ali, como se ela estivesse se guardando para a intimidade, nada mostrando de si ao público.
ela sequer falava o total da compra, a registradora em frente dizia tudo o que era preciso.
ela me deu o troco, eu agradeci, ela não disse nada.
e por não se mostrar, não se envolver, acabou criando uma aura de respeito em torno de si. o respeito que vem do mistério.
o respeito que vem da ilusão, da ignorância.
talvez ela apenas não fale português direito.
_______
no mundo ocidental, onde aparências valem mais, criam-se percepções utópicas.
:(
infelizmente pouquíssimas pessoas fazem realmente o que gostam, e assim vamos adiando nosso 'ser' sempre para depois...ou então, o mais comum, passamos a 'ser' para os outros, vivendo um personagem, alienados de si mesmos...
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